Mediado por Tatiana Pimenta (Vittude), o painel do Palco 2 no final da tarde do segundo dia do CONARH 2025 reuniu Débora Ferraz (Braskem) e Christian Cetera (Hospital Sírio-Libanês). O ponto de partida é incontornável: o Brasil é o país mais ansioso do mundo, 5º em depressão e 2º em estresse/burnout. Só no último ano, 472 mil pessoas foram afastadas por transtornos mentais, um salto de 70% vs. 2023.
Mas a boa notícia é que a mudança já está acontecendo. O tema ganhou letramento e espaço nas empresas; ações pontuais estão migrando para programas estruturados; lideranças começam a se engajar com dados e metas; e a NR-1, com foco ampliado em riscos psicossociais, segue em implementação e entra em vigor no próximo ano — empurrando a pauta de vez do discurso para a prática.
Para Débora, a pandemia teve um papel decisivo:
"Antes, falar de ansiedade, medo ou insegurança era sinal de fraqueza. Mas quando o mundo inteiro foi colocado em isolamento e todos estavam com medo, algo mudou."
Foi nesse momento que a Braskem começou a se movimentar. O que antes era silenciado passou a ser reconhecido. A empresa deu os primeiros passos para sair de ações pontuais e construir programas contínuos. Ainda há um longo caminho pela frente e o estigma segue presente e a liderança muitas vezes não sabe como abordar o tema.
Mas a chave foi girada.
Débora afirma:
"Ainda hoje há medo de dizer que se toma medicação, por exemplo. E muitas lideranças só enxergam as pessoas pela lente da performance, não como seres humanos completos."
A saúde mental, quando aparece nas empresas, ainda é um tema exclusivo do RH — e não uma pauta estratégica transversal, como deveria.
Christian trouxe o olhar do hospital e mais de três décadas de experiência com capital humano.
“O desafio de hoje é outro. RH sempre lidou com eficiência, eficácia, performance. Agora o desafio é maior: pessoas buscam respostas que não estão mais só no trabalho.”
Ele lembra que, antigamente, a resposta padrão era deixar quem tinha qualquer sofrimento mental do lado de fora da organização. Mas essa lógica é inviável, além de desumana.
“Se for tirar todas as pessoas que enfrentam desafios de saúde mental, não sobra ninguém.”
O Sírio-Libanês começou mapeando iniciativas soltas de prevenção, cuidado e psicoeducação e percebeu que, apesar dos esforços, faltava centralização e estratégia. A partir disso, o hospital criou um núcleo de saúde mental, com uma estrutura de inteligência para consolidar dados e formular respostas mais precisas.
"A escuta ativa virou parte da cultura. Casos reais são discutidos com letramento, inclusive com a alta liderança. Isso ajuda não só os times, mas também as famílias. Pequenas ações consistentes fazem a diferença.”
Ao assumir a área de RH, Débora decidiu começar ouvindo. A empresa aplicou uma pesquisa global sobre saúde e bem-estar e descobriu que, entre todas as dimensões, a saúde mental e financeira eram as mais urgentes. A primeira ação? Educação financeira.
Com o tempo, a Braskem estruturou um fluxo de cuidado coordenado, com análise de riscos psicossociais, avaliação da jornada de trabalho, relação com lideranças e percepção de reconhecimento. O resultado foi uma abordagem em camadas, que inclui desde rituais de segurança psicológica até apoio clínico especializado.
Hoje, a Braskem é a primeira indústria pesada brasileira a cumprir todos os requisitos do “Mente em Foco”, iniciativa da ONU.
"Temos diretores discutindo casos de ansiedade e depressão com a mesma seriedade com que analisam indicadores operacionais.”
Tatiana, da Vittude, trouxe um dado que sacudiu o auditório: 31% das pessoas nas empresas estão em presenteísmo. Ou seja, comparecem ao trabalho, mas não conseguem produzir. É diferente do desengajamento. São pessoas que, por conta da saúde mental, estão presentes, mas não disponíveis.
Ela também destacou que 86% das pessoas mudam de emprego por qualidade de vida e saúde mental, segundo pesquisa da Exame. E que a geração Z não quer liderar, por entender que esse é um fator de risco para o próprio bem-estar.
Na Vittude, que atende mais de 3 milhões de pessoas, áreas como RH e lideranças são as mais afetadas.
“Antes mesmo do estigma, havia falta de letramento. As pessoas ouviam ‘engole o choro’ a vida inteira. Falar de sofrimento era sinônimo de fraqueza. Hoje, precisamos quebrar esses padrões com educação, dados e coragem.”
O futuro da saúde mental nas empresas está em construção e depende de escolhas hoje. Débora acredita que não se trata mais de diferencial, mas de sobrevivência.
“Muitas empresas já estão enfrentando perda de atratividade e altos índices de turnover. É preciso enfrentar isso de frente.”
Christian reforça que o papel do RH será decisivo.
“O que tira meu sono hoje é a formação dos profissionais de RH. Precisamos de uma abordagem holística, multidisciplinar, que entenda gente, negócio e contexto. Esse desafio está nas nossas mãos.”
E Tatiana fecha com uma provocação:
“Com dados e sensibilidade, conseguimos prever afastamentos antes que aconteçam. Isso muda tudo. Mas é preciso sair da reação e ir para a prevenção. Não dá mais para deixar essa pauta para depois.”
Na Niky, acreditamos que saúde mental não é pauta isolada: é parte central de um ambiente de trabalho saudável e sustentável. Por isso, ela está no centro da estratégia de multibenefícios que entregamos: incluímos ofertas específicas voltadas ao cuidado emocional e psicológico como parte do pacote, ajudando empresas a transformarem boas intenções em políticas reais de cuidado.
Mais do que aliviar sintomas, promovemos bem-estar com soluções que respeitam a diversidade de contextos, fortalecem vínculos e ajudam cada pessoa a acessar o que realmente precisa. Afinal, cuidar da saúde mental é também cuidar do negócio e do futuro do trabalho.
Receba insights rápidos, ideias práticas e tendências de RH direto no seu e-mail. CTA - Cadastre-se na news da Niky!